Este romance, o primeiro de Gabriel Jubé, é uma pequena joia literária.
A protagonista, Divina, tem o dom dos grandes personagens: linguagem, força, beleza. Sua história é contada por ela mesma e pela bisneta que, movida pelo desejo de desvendar quem foi a bisavó que a família desconhece ou esconde, torna-se a narradora dessa jornada. As duas vozes se complementam lindamente e fluem sem obstáculos, dando a Divina a primazia de uma linguagem que sobressai pelo lirismo, contundência, veracidade.
A trama consistente e original prende nossa atenção, comove. Com sutilezas e suspenses, vai desenrolando seus fios perturbadores: os bastidores de uma casa de prostituição, casa que Divina construiu quase do nada e manteve enfatizando seu lado de acolhimento e solidariedade; o mundo escondido das crianças protegidas por todos que viviam ali; a complexidade dos sentimentos entre Divina e o filho; os amores que, entre conflitos e contradições, surgem com a potência de destruir barreiras e se impor ao tempo.
Os personagens que gravitam em torno da figura de Divina adquirem carne e alma por meio de seus atos e comportamento. Natã, Hercília e Jamila nos mostram, com muita sensibilidade, que a vida nunca foi só de flores, tampouco só de amores.
Há vida que pulsa. Há abandonos. Há emoção que nos envolve. Há uma mangueira e um caroço de manga. Há água do córrego que corre lavando pés. Há frêmitos e paixão. Como em toda ficção nas mãos de um escritor digno do nome, há verdade.
Saímos dessa leitura sabendo que não esqueceremos Divina, tampouco sua vida de temores, perseguição, dilaceramentos e alegrias. A Casa de Didi, a casa que ela construiu, merecia uma história assim.
Maria José Silveira