Começa aqui o Unicórnio.
Em que se conta a história do Unicórnio. Trata de uma Peça com o Número 985, que foi tratar de uma Empresa e dos trabalhos que lá realizou e das Peças que com ela trabalharam. Em que há cinquenta e cinco capítulos.
I.
Era uma vez uma criatura mágica chamada Empresa. E nenhuma outra criatura mágica ousava ser tão especial e majestosa como uma Empresa. Mas nem todas as Empresas eram iguais. Se algumas eram pequenas, outras eram tão grandes que esmagavam tudo por onde passavam.
(…)
R$60,00
_sobre este livro
Uma história que poderia ter sido a de qualquer pessoa, diga-se qualquer Peça, ou em qualquer reino, diga-se em qualquer cidade gentrificada. A tragédia cômica dos subempregos contemporâneos numa divertida adaptação formal entre o faz-de-conta e os autos vicentinos.
Se começa com “Era uma vez…”, é apenas para trocar as voltas às leitoras mais esperançosas que se fiam na possibilidade heroica da Peça 985. Pobre Peça, pobres leitoras. Aliás, importa dizer que, em Unicórnio, a esperança é um recurso plástico — testada ao extremo, confundida, incitada, por vezes até ridicularizada pelo narrador omnipresente que, apesar do seu exímio compromisso com a verdade, vez ou outra deixa escapar lastros de um temperamento peculiar. Apesar disso, nos apresenta uma lista de personagens “devidamente hierarquizadas”, capítulos mais ou menos regulares, entre outras estratégias sádicas para nos convencer de que estamos perante um cenário banal. Mentira.
Formalmente instigante, o livro se desdobra pela escrita inteligente, ritmada pela ironia subtil e estrategicamente presente em apontamentos cómicos. Apesar da verdade, não existem certezas. Mas há encantamento, tensão e, como já foi dito: esperança! De leitura imersiva, com momentos de zoom in/zoom out. Se fosse um quadro, certamente se pareceria muito a um Jardim das Delícias —
onde há muito para ver, desde que se observe com paciência e proximidade.
Um auto da precariedade laboral, com as suas coreografias de vaidade, nuances tóxicas, rotinas de bajulação e desespero e, claro, a melhor parte: os pequenos ímpetos das revoltas subalternas. Dito isso, é sobretudo um livro trágico — daqueles para morrer de rir.
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Até há pouco tempo Isabeli Santiago, autora deste texto, era uma Pecinha triste e cansada. Atualmente, mais próxima dos dois dígitos, sente-se uma quase-pessoa. Embora um pouco menos triste, está muito mais cansada.
_outras informações
isbn: 978-65-5900-687-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5 cm
páginas: 200 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª