A ascensão do Titanic

Disponibilidade: Brasil

Eu nunca vi ninguém morrer. Mas, naquele dia, inventei que tinha visto uma pessoa ser atropelada para não ir pro trabalho. Na história que contei para meu chefe, a roda de um carro passou por cima da cabeça do motoqueiro, que explodiu pela pressão sobre a caixa craniana, manchando de vermelho e rosa os SUVs brancos ao redor como um tomate pisoteado. O capacete primeiro se entortou sobre si mesmo, depois também explodiu em fragmentos de acrílico e plástico, encorpando a mistura de miolos numa textura de cacos e tripa.

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_sobre este livro

Desde o título, a ficção de Daniel Françoli Yago se propõe a reverter os equívocos do mundo. Em seus contos o Titanic deve emergir de volta à superfície do oceano, que afinal é o seu lugar, e Moby Dick deve estar no céu, voando. E por que não resolver os dilemas da modernidade já no princípio de tudo, deixando que Eva e Lilith se unam para evitar dores e descaminhos futuros na trajetória do homem? Bem, talvez esse substantivo não seja mais útil no universo descortinado em A Ascensão do Titanic: o universo do paradoxo. E talvez o Homem Original não passasse de um xerox desvanecido a ser descartado.

A estreia de Yago é marcada pelo arrebatamento da imaginação — hiperreferencial e sinestésica, com acenos efusivos à cultura pop e literária —, em narrativas nas quais o comum se depara com o bizarro: castelos europeus no litoral brasileiro, wünderkammers em escala humana e seitas secretas de adoradores de buracos negros assombram estas páginas.

Os personagens de A Ascensão do Titanic certamente fugiram do circo de horrores de P.T. Barnum (ou quem sabe de um filme de Tod Browning ou Tim Burton), a fim de se esconderem na realidade. Agora estão numa carta de amor desesperada para o universo gótico dos contos de fada para adultos de Angela Carter, rasgada pelos medos e superstições da era vitoriana. O clima é extemporâneo, como se o passado persistisse estranhamente na consciência de narradores contemporâneos.

E há a forma mestiça, entre o conto e a novela quebrada, atravessada por diversos planos e dimensões complementares. Ou o lirismo de uma canção cantada por Rosie, a tubarão-branco encontrada num parque aquático abandonado e futura embaixatriz do Instituto Luísa Mell.

Sejam bem-vindas e bem-vindos, portanto, ao Gabinete de Curiosidades de Daniel Françoli Yago. Como porteiro deste prédio ficcional, tenho apenas um conselho: não seja tão curiosa, amiga leitora, não faça perguntas demais e lembre-se do que a curiosidade fez ao gato. E uma lembrança, amigo leitor: procure não gritar quando o Sol estiver se apagando.

Joca Reiners Terron

_outras informações

isbn: 978-65-5900-625-0
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19 cm
páginas: 192 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2023
edição: 1ª

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