Caminhava feito embriagada pelo deck. O balanço da plataforma e a desordem das noites mal dormidas faziam-na perder o equilíbrio. Segurou-se no guarda-corpo e, com a mesma mão, tentou afastar o sono dos olhos. Percebeu que, com esse gesto descuidado, poderia ter acabado de se contaminar com o coronavírus, que se espalhava pela plataforma. A essa altura, ele já poderia estar aderido a todas as superfícies do navio. Olhou para as palmas de suas mãos. Pareciam limpas, estavam molhadas de chuva. Pensou se já não era ela a infectada que transmitia a morte onde tocava. Respirou fundo, mas o ar salgado e úmido parecia rarefeito, não saciava. A visão do mar revolto era nauseante, assim como a onipresença do vírus e o odor do assassino que a sondava. Ela não conseguia mais ter nem um resíduo da esperança com que, em meio a um azul inebriante, descera do helicóptero poucos dias antes.