Insurgir-se. Na educação, na política, nos relacionamentos cotidianos e profissionais, nos discursos… De um modo ou de outro, os textos reunidos nesta coletânea revelam e analisam algumas das insurgências desse tempo pandemia. Que se arrastou e se arrasta. Que se intrometeu em nossa rotina e nos impôs fraturas, perdas, depressões, ansiedades e, ao mesmo, tempo, oportunidades importantes de discutir a “normalidade” da organização atual da dita humanidade civilizada. É isso que fizeram – entre álcool gel, isolamento, máscaras e vacinas – os autores reunidos neste livro.
Estes pesquisadores de diversas instituições oferecem sua análise, interpretação e reflexão filosófica sobre as consequências desse momento pandêmico, seja no trato diário das relações humanas, seja em uma abordagem mais ampliada dos fenômenos políticos, econômicos, sanitários, educacionais, entre outros, desencadeados pela pandemia de COVID-19. São análises efetuadas no “calor da hora” e, portanto, implicadas com o presente e mesmo com a construção de um outro tempo.
Importa salientar que nas duas seções do livro evidenciam-se as preocupações de alguns autores com os processos educacionais, não sem motivos, obviamente, já que um dos problemas mais escancarados na pandemia foi a discrepância com que pessoas oriundas de classes sociais distintas tiveram acesso ou foram absorvidas pelas plataformas de educação à distância. E mesmo se puderam ou não desenvolver seus estudos de modo a minimizar o impacto de não poderem se locomover até as escolas, espaços mais adequados ao ensino e à aprendizagem.
Na esteira da conectividade – uma necessidade quase inquestionável – outros autores se levantam para mostrar que ela não é igual para todos, que aqui também estão configuradas relações de poder e que, por isso mesmo, trabalhadores são enlaçados pela narrativa neoliberal, encorajados em seus home offices a serem empreendedores de si.
Mas é aí que são travadas e reafirmadas as resistências, no interior mesmo das relações de trabalho, de poder e na impossibilidade da interação presencial. É assim que sujeitos resistiram e insurgiram-se, construindo possibilidades colaborativas, questionando e arvorando-se contra o estabelecido. Colaborando ao seu modo com o desvelamento das desigualdades e das diferenças.
Ao suposto normal, a resistência e a insurgência!
Márcio Antonio Gatti