Há alguns meses, lendo versões iniciais de poemas que vieram a integrar este livro, lembro-me de ter dito a Fabiola Glashan que eu via muito em sua poesia o olhar do artista curador, que pinça, aqui e ali, no que ouve e no que vê, matéria para sua escrita.
Continuo tendo essa opinião. No entanto, é importante dizer, também, que Glashan não se filia a uma tradição que, para construir seus textos, pinça frases inteiras, trechos de diálogos, e dá a ouvir pedaços de conversas. Aqui não é essa a proposta. Na verdade, os poemas desta coletânea são tão entrecortados quanto o ritmo e a vida da contemporaneidade. O que a poeta seleciona em sua curadoria são unidades de significação mais breves: palavras e expressões curtas que aparecem em conversas, manchetes, poemas.
Assim, mais do que através da fluidez, muitos dos poemas de Mar de sal são construídos através do acúmulo de imagens que são referidas com brevidade. Em vez de se demorar ou degustar cada uma delas, os poemas agilmente nos puxam o tapete e nos lançam, sem demora, em um mar de imagens espessas. Por isso é um pouco desnorteados que nós, leitores, flutuamos sobre essas páginas.
“Flutuar” é um verbo que pode fornecer uma chave de leitura interessante para esta coletânea. Ora, quem flutua, flutua em que matéria? A resposta, em língua portuguesa, está no contexto. É possível flutuar porque se está sobre a água ou flutuar porque se está em suspensão no ar. E há uma diferença tremenda entre uma coisa e outra, mas, ao mesmo tempo, ao ouvir “flutuar”, adivinhamos certo “não tocar a terra a firme”, não estar com os pés fincados no chão. Pois bem: parece ser nesse clima de suspensão indefinida que Glashan encontrou caminho para sua estreia na poesia.
Lilian Sais