A estranha mania das abelhas

Disponibilidade: Brasil

Foi precisamente na Sexta-Feira Santa que Amália decidiu. Pegou o caco da boneca, que deixara na caixinha de joias, a garrafa de mel e um pouco de dinheiro que guardavam numa lata de leite. Abriu as persianas e janelas, desligou todas as lâmpadas, destrancou todas as gavetas. E tendo feito isso, pegou de novo na mão de sua mãe, que dias antes a deixara em fúria, e a beijou…

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_sobre este livro

O conto “A estranha mania das abelhas”, que também dá nome ao livro, foi inspirado em um diálogo presente na obra Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, grande nome da literatura brasileira e um dos escritores favoritos de Rute Ferreira. Para compor os contos reunidos neste volume, a autora tomou emprestados os nomes das personagens femininas da obra de Barreto. Olga, Adelaide, Ismênia. Mulheres imersas em universos carregados de angústia, solidão e loucura.

Os temas abordados nas narrativas escritas por Rute são variados: a espera pelo retorno de um grande amor; o encantamento com as cores do céu e o assombro com o vermelho-sangue daquilo que não tem explicação; um corpo negro sem face, ameaçador apenas por existir; a proximidade da morte; a agonia de pensar em como a vida poderia ter sido; o tormento que uma decisão difícil pode provocar.

Além dos nomes das personagens, é possível encontrar no livro de Rute outros elementos que fazem referência à obra de Lima Barreto, como um vestido de noiva ou uma casa de farinha. A autora também traz para o contexto atual comportamentos que marcavam a sociedade brasileira no final do século xix. Se na época de Policarpo Quaresma, o fim da escravidão era recente, nas páginas do livro de Rute vemos que, apesar de todo o tempo decorrido desde então, o racismo está longe de ser resolvido. O mesmo acontece com as relações de gênero: a sociedade que pressionava uma mulher a se casar a qualquer custo, hoje noticia graves casos de feminicídio.

Rute Ferreira escreve com delicadeza sobre assuntos perturbadores, em uma prosa envolvente que seduz o leitor desde a primeira linha. Seus contos despertam os sentidos de quem lê: eles têm cheiro de manga, caju, limão e farinha, mas também do banheiro imundo de uma rodoviária do interior. O paladar é despertado pelo sabor do mel. Afinal, as mesmas abelhas que têm a estranha mania de causar dor são aquelas que podem fornecer doçura para existências tão amargas.

Márcia Silveira,
crítica literária, bacharel em filosofia e pós-graduada em história da arte

_outras informações

isbn: 978-65-5900-352-5
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19 cm
páginas: 64 páginas
papel pólen gold 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª

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