recomeço
Só hoje notei que as
cadeiras estão bambas
e que a lâmpada do quintal,
de súbito, em algum
momento morreu.
Percebi que a gaveta não
mais fecha sua boca e nem
esconde sua língua seca
sem salivar, e que
vilancetes e madrigais
(ou mesmo rondós e haicais)
por ora não fazem sentido.
Através do vidro canelado
vi que os carros, moto
contínuo, levam ainda
motoristas tristes e fumantes
mastigados pela presteza
dos rádio-jornais,
e que agora pela fresta
já não chega nenhuma luz.
Nesse final de exílio morto,
científico e filosófico o
próprio corpo, diz que se
faz necessário amanhã,
já de antemão,
erigir o céu.