Um levantar de paredes

Disponibilidade: Brasil

eu leio o aviso
produto tóxico

não me arrependo
de morrer como meu avô

meu avô era tão triste
não fazia versos tristes

um dia
terei um neto triste
e arrependido

R$45,00

_sobre este livro

_sobre este livro

Certa vez, ao passar a seus alunos um exercício de fotografia, Fabiano Scholl conta que um deles fez imagens de pessoas cujos pés estavam fora do enquadramento, e o professor quis saber o porquê daquela escolha. O aluno buscava um efeito tal que as pessoas parecessem estar no espaço. O professor arguiu, então, a um só tempo enfático e delicado: “Mas nós estamos no espaço”.

Os poemas que Gustavo Rosa apresenta neste livro de estreia entregam esta sensação decuplicada: estamos efetivamente no espaço, a flutuar em nossos batiscafos de memória e em nossas esferas de realidade (seja lá o que isso queira dizer), ainda que as leis da física e as vicissitudes do cotidiano, da rotina e da compulsão à repetição, mantenham-nos rentes ao chão, temerosos em sair voando, presos no eterno labirinto do que volta, mas sempre é o mesmo e sempre é outro.

Assim, Um levantar de paredes pode significar tanto a ideia de construção, como uma metáfora para a edificação, quanto o seu oposto: livrar-se das paredes, fazer coalescer em seus entornos o que antes era espaço privado e “individual”. A dicção do poeta se conecta a isso: ele não parece ter preocupação excessiva com a utilização de uma voz própria, provavelmente porque perdeu (ou nunca teve) essa ilusão – sua voz se liga àquelas de seus poetas prediletos, o que está longe de desqualificar a sua poesia. Uma lógica espacial também aqui se manifesta, a roçar o que anunciou Haroldo de Campos um dia: “A poesia é uma família dispersa de náufragos bracejando no tempo e no espaço”.

O espaço toma as feições de um tempo, com suas vestimentas e sua imantação e, em boa parte dos poemas, o tempo é o da infância – não é a infância o país onde eclode a poesia? Não é sobre os olhos da criança que se aplicará a venda com que ela será empurrada para o mundo adulto, onde epifania, estranhamento e ignorância (no sentido de ignorar diante do mistério) perdem terreno para certeza, objetividade e totalização?

É no espaço solapado pelo permanente quebrar e aderir da linguagem que os objetos de afeto do poeta circulam, interrogam-se, ficam opacos ou resplandecem: mãe, pão, pedra, lua (outra pedra), a casa da frente, estrela – distantes ou perto, ombreiam-se no plasma cósmico do cotidiano (também esse uma casa habitada por muitos poetas, e que tem muitas portas). É nessa senda que o poeta retém “o que uma janela esconde na velocidade”. E é com uma ironia puntiforme que ele admite, não sem alguma melancolia, que “pisar em osso nunca é fácil”.

Marco de Menezes

 

_outras informações

isbn: 978-85-7105-095-2
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 80
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2019
edição: 1ª

Carrinho

Cart is empty

Subtotal
R$0.00
0