Economia e força são duas palavras adequadas para pensar Um acaso nas mãos, que marca a estreia de Rubens Corgozinho na poesia. Economia, porque o verso, em geral, é preciso. Força, porque a precisão é aguda. Economia: o verso ora vai, ora volta; e as palavras se repetem. Força: coisa, amor, desejo, mundo, numa circularidade que dá corpo a uma visão e a uma relação particular com a cidade e com as pessoas.
Também se destaca a palavra melancolia, emprestada em larga medida de Carlos Drummond de Andrade e Roberto Bolaño, algumas das muitas referências para os poemas. Ela aparece sem alardes, mas é assumida como traço distintivo, e é percebida geograficamente, num mundo que se mostra com frequência empobrecido. Através dessa paisagem ao mesmo tempo interior e exterior, o sujeito apresenta ao leitor o mundo visto, e tudo acontece como uma conversa singela, uma que se faz ao caminhar.
Talvez por isso a forma deste “acaso” conjugue o poema longo e o verso curto. Assim, cada sílaba é um passo; cada verso, um metro ou mais — e as imagens da rua e da cidade e do mundo se dão a ver em um mosaico feito de “cacos fora da moldura”, que o sujeito do poema indica ao leitor como alguém que aponta com o nariz.
Dizendo assim, parece sobrar desencanto em Um acaso nas mãos, e é possível que sobre. Mas não há engano: apesar da melancolia, um verso sempre escapa, o amor brota, a memória ilumina e a estrofe diz, implícita ou explicitamente: — Ainda vale a pena estar vivo, vale a vida.
E vale um verso também, ou muitos, mesmo que escritos por acaso.
Gabriel Reis Martins