Seu nome na minha boca

Disponibilidade: Brasil

Pedi a conta perturbado e parece que escondi bem tudo o que se passava na minha cabeça. Perturbado. A barriga dela subindo e descendo tão deitada embaixo do meu corpo, a calcinha ali, e ela não queria tirar a calcinha, o que achei alarmante porque era necessário usar os dedos para enganchar e esticar as revelações, e eu queria uma conversa razoável, me fale sobre seus grandes sonhos, precisava de outros pontos, outros detalhes, certos pudores, porque estava fisicamente inquieto ou com um tesão além do necessário, mas continuava ali comendo por trás, e ela gemendo na beira da cama, derretendo, com as mãos escorregando, o corpo chegando no chão, e eu dizendo levanta, fica como eu mandei. Detesto que mexam nas minhas coisas. E ela dizendo eu não consigo levantar, e eu a recolhendo e metendo, e ela você me ama? E eu te amo há tanto tempo e vou te machucar, mas não agora, juro.

R$52,00

_sobre este livro

Priscilla de Oliveira nos oferece em seu livro de estreia, Seu nome na minha boca, histórias que em narrativas diversas mostram como as relações familiares e amorosas são determinantes em nossas vidas. Nem sempre de forma agradável ou bem resolvida, seus contos cortantes têm em comum o devir mulher. Tendo esse tema como ponto de partida, as personagens surgem para falar de afetos e da força destrutiva de seus desejos reprimidos que pulsam como pequenos incômodos no cotidiano.

A autora disseca com maestria o lado mais íntimo e, por isso mesmo, às vezes macabro de seus personagens.

Há em cada conto a exposição da vida como um jogo de forças irracionais. Nomeado como delícia e terror, o conto escolhido como título do livro, “Seu nome na minha boca”, tem o clima da paixão encarnada sem romance, uma pitada de perversão revestida de erotismo, não há espaço para glamour.

Isso faz com que o livro de Priscilla apresente uma predominância feminina. São mulheres impulsivas, apaixonadas, que seguem o fluxo da atuação, levam a vida num ritmo norteadas por instantes de prazer e uma espécie de ‘não querer nem saber’ sobre o risco que correm. Sem amor avançam, sem prazer insistem. Ansiosas pelo futuro, teimam em lançar-se à própria sorte. Numa euforia contínua, elas estão ora buscando, ora fugindo. Insatisfeitas permanecem. Perdidas. Vítimas cambaleantes que no desfecho de cada história vivem a face trágica do amor.

E por aí a trama segue, deslizando nos trilhos de uma vida sem rumo certo, o que aliás pouco importa, pois o que está em jogo na trama é uma ética do desejo cego, que faz de cada linha uma continuação, ou uma emenda infinita, do que há de mais revelador do feminino em sua particularidade. Além disso, as lembranças de quem já se foi são avassaladoras, embaralham os tempos vividos do presente e passado que nunca chegam a vigorar como saudades. Efeitos desencadeados da falta que provoca estragos e da violência sofrida. Nas entrelinhas encontramos o abuso sofrido por traição, estupro ou incesto. Acreditem, as personagens a tudo sobrevivem (mesmo que precariamente), menos aos efeitos silenciosos de suas próprias lembranças.

Esta é a maior qualidade da autora: conseguir apresentar em seus contos uma trama que é capaz de revelar primorosamente o que não conseguimos jamais esquecer — que o amor marca para sempre a vida da gente, e não se vive isso impunemente.

Renata Salgado

_outras informações

isbn: 978-65-5900-491-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19cm
páginas: 152 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2023
edição: 1ª

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