Sete saias

Disponibilidade: Brasil

O punhal é erguido no ar e desce lentamente contra o pescoço do menino, que segue olhando firme na direção do coronel. A ponta da arma pressiona a pele até que um pequeno fio de sangue escorre e mancha o tecido da camisa. O contratado Jeremias continua com o braço erguido, o menino preso pelos cabelos, respirando forte. Então, diante do movimento congelado, o silêncio dos homens em redor da cena, o menino se volta para olhar nos olhos do algoz e diz, com voz engasgada:


— Se vai matar, mata logo, moço.

R$52,00

_sobre este livro

Garimpando os fragmentos históricos que compõem o imaginário do cangaço, Edmar Monteiro Filho constrói uma narrativa envolvente que, com delicadeza, flerta com dramas universais. Nela, muitas vozes se misturam, se enfrentam e se contradizem, implicando o leitor na decifração do destino das personagens e, também, na compreensão da alma humana no emaranhado das relações sociais. A polifonia do mundo é expressa em capítulos construídos por testemunhos dos fatos: o discurso das autoridades, a “voz” dos autos criminais, a expressão dissonante do cangaceiro aprisionado e a palavra do autor — que convida o leitor à lucidez da verdade em meio ao espinheiro de enganos que constitui a matéria da vida cotidiana. Porque, diante das inverdades da vida — que toleramos e nas quais, frequentemente, nos apoiamos —, apenas a verdade da arte tem consistência. Improvável como a terra que enfrenta a secura do tempo, a verdade segue sua existência muda resistindo ao viço dos boatos, à obliquidade dos registros, à maquinação dos pensamentos íntimos, às omissões, distorções, infidelidades, delações, escaramuças, adulações, encenações e desonestidades de todo tipo. Mas, como mostra o autor por meio do belo e curioso preâmbulo — deixado ao prazer da descoberta do leitor —, a distância, esse mundo sombrio sob o drama do sol escaldante é apenas o pequeno palco onde as misérias humanas aguardam por uma benção que fale mais alto aos fatos.

Vivendo quase sem escolha em um cenário violento e rude, os personagens simples expressam a profundidade da tragédia humana. É o que temos na história de desejo, violência e ódio entre Mariano e Marianita e, em cantos menores, como a verdade aguda encarnada na existência do menino Zico. É na inverdade que movimenta o círculo vicioso de desigualdade, desconfiança e violência que o autor identifica o mecanismo que mantém ativo esse universo sem redenção. Desse modo, no reconhecimento da impostura, o leitor é conduzido à verdade.

Confissão de fé, Sete saias nos lembra que a verdade não é uma coisa que cabe na mão humana. É um caminho que se escolhe e atravessa.

Neri de Barros Almeida

_outras informações

isbn: 978-65-5900-757-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x1cm
páginas: 156 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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