Pés pequenos pra tanto corpo

Disponibilidade: Esgotado

Não sei se mudei multipliquei
se subtraí alguma eu de mim
se me somei posso ter inflado
ou esvaziado mas já não sou
mais ela aquela magrela tagarela
insegura gazela cheirando a mar
não sei se alcancei aquela moça
que desenhei ou se nesse projeto
fui vitoriosa ou me equivoquei
alcei voo depois posei em cima
da fiação eletrifiquei morri feito
urubu malcriado ou burro ou tonto
pensando ser subversivo mudou tanto
tanta coisa mas manteve o velho hábito

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_sobre este livro

_sobre este livro

Toda a poesia repete o ato alucinado de uma pergunta, de múltiplas perguntas, de uma busca em direção a um lugar nenhum que nos corrói. Dito isto, lembro-me de um amigo me contar que, ao ler um poema, corava e ficava perplexo, sem saber o que fazer, incapaz de repetir o poema alto. Assim me sinto também. Falar sobre a poesia da Manuella é um exercício que sei nunca ser capaz de cumprir. Suas perguntas são suas, sua busca algo que me escapará sempre. Detive-me por isso nas palavras, lugares palpáveis deste livro e são essas que gostava de partilhar convosco. Alguns versos que me ofereceram um lugar parado no tempo, o colapso dos ruídos à minha volta, o esquecer de minha própria consciência que parece nunca querer dormir. Espero que vos possam oferecer algo de semelhante. É muito.

pés pequenos para tanto corpo.

São elas, as moscas, que chegaram pra anunciar a primavera

corpo caminho, porém morto e descompensadamente torto embora vivo

mas mesmo/ queria ser laranja de/ pomar ou chuchu na / serra que dá aos montes o ano inteiro

de cada caco varrido da tua vida em mil; / foi golpe

Enquanto me cobram hojes, passo com o carro / na frente dos bois

Ah, Renata! Eras tão clara ou mascarada / sob teus telhados de vidro estilhaçados? / Salve, Renata. Salva-te!

serpentes de todas espécimes / humanas dormem nas árvores que também cochilam / aproveitando o vento da tarde;

os outros são somente / onde eu gostaria de morar / pra não ter que morar em mim

morreu ainda com vida / e embora tenha vivido quarenta anos / Já nascera morta

Coração que pousa / no marfim elefante / dribla a morte

Judite Canha Fernandes

_outras informações

idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 84
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2019
edição: 1ª

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