Para além da tempestade

Disponibilidade: Brasil/Europa

sou apenas a ave ferida
que jamais conseguiu sarar:
apenas sei que parti
e nunca mais logrei chegar.
será porque não fiz a despedida?

sempre senti, no prazer,
mágoa secreta:
tudo era algo que me aparecia
e que, depois, logo me fugia,
como se eu fosse uma noite,
escorraçada pelo dia.

que é, da essência de mim,
que me foge e onde mora?

porque é que, mal aparece,
me abrasa e depois chora?

onde paras tu, ó alegria?

 

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_sobre este livro

No quadro de forças antagônicas que têm imposto à contemporaneidade um espectro distópico e outras nuances disfóricas, com a crise de valores éticos, morais, políticos e humanos, só mesmo a poesia para nos conduzir, numa perspectiva dialética para além das tempestades que se se sucedem. Nessa direção se dirige a oficina de Adalberto Alves, num compromisso deontológico com uma palavra de ordem que esterilize os focos resistentes da decadência civilizacional, em que a carga semântica de sua arte, um endurecer sem perder a ternura, culmina em “desmobilização geral” do que na vida é porosidade e desencanto.
Desde seus primeiros livros, a poética de Adalberto vem consolidando sua postura crítico-reflexiva do ser, do tempo (“um ladrão impenitente”) que tudo escasseia, da realidade histórico-social e dos afetos, além da preocupação exegética com o lugar e o valor (imprescindível) da poesia nessa época antiepopeica de intensas metamorfoses e câmbio de referenciais. O legado de sua produção é imenso em mais de quatro décadas de exercício criativo, seja como advogado militante na defesa das causas dos oprimidos, seja na seara da escrita literária, do ensaio, da tradução, do diálogo e flerte com outros autores e culturas. Aí reside a busca de um espaço em que a interculturalidade sempre foi um leitmotiv para encurtar espaços geográficos quanto para estabelecer pontes ou canais de comunicação com diversas tendências culturais da intelligentsia e categorias do pensamento.
Para além das tempestades reúne a recente safra poética do autor, com seu olhar arguto e atento, em cujo escopo localiza-se o cerne de uma atávica preocupação, um modo peculiar de ver o mundo e dele extrair – seja de seus paradoxos e adversidades, conflitos e ambiguidades, incertezas e pesadelos – a sua humanidade e universalismo. Do lírico ao social, do político ao filosófico, do lúdico ao metafísico, eis uma poesia que aborda nossa pequenez e transitoriedade. Centrada numa visão de questões e contextos hostis sem abdicar da conectividade e unidade de sentidos, nasce do tanto da experiência existencial quanto da expressão de uma pulsão onírica. A habilidosa exploração pelo autor do caráter subjetivo de distintos temas, fundindo introspecção e racionalidade, entrelaçando o mistério e o tangível ou percorrendo aspectos conceituais, reverbera um impacto metafórico a essa obra densa e intensa, inquietante, mas transcendente, amalgamada por uma linguagem povoada de intertextualidade e formalmente construída com sofisticado rigor estilístico.
No embate com as perplexidades quotidianas, o poeta nos inquire com seu arsenal de assombros: “que civilização é que nos resta,/se, em tudo, sendo diferente,/festeja sempre a mesma festa,/num eterno jeito indiferente?”

Ronaldo Cagiano

_outras informações

isbn: 978-65-5900-133-0
idioma: português
formato: 12x16,5 cm
páginas: 174 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2021
edição: 1ª

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