O vivo no vivo

Disponibilidade: Brasil

com papel seda
deu linha ao vento
traçou cerol no céu

lá vai o menino
atrás da pipa

emaranhada
nos carretéis de Portinari

R$45,00

_sobre este livro

“Nós vamos ter que parar por aqui.” É o último verso do primeiro poema de O vivo no vivo, de Anna Violeta Durão, no qual se emula um fim de sessão de análise, concluindo um texto que faz coincidir duas formas distintas de rememoração: das fontes do eu e das do mundo da arte, fundidas. Na brusca interrupção do eu e da arte começa a vertigem que tem palco na obra que você tem em mãos.

O que é uma interrupção? Pegue uma cadeia de acontecimentos interligados. Cada evento é o elo de um processo que faz sentido. Quebre a corrente. Com que martelo? Com trauma ou milagre. Dois procedimentos de interrupção que atravessam O vivo no vivo. O truque de Anna Violeta consiste em esconder essas duas forças, trauma e milagre, em imagens mínimas. No poema “embrulha pra viagem”, três estouros na embalagem de plástico-bolha atualizam o remetente: “ploft! viagem;/ploft! presente;/ploft! encontro”. Nada além de uma mínima explosão de ar acontece na cena, mas essa distensãozinha repentina desloca o corpo até um encontro. Isso é possível porque a poeta se condensa a si mesma: “me cristalizo/uma pitada/de sal”.

É assim que devemos ler seus poemas? É isto que está vivo no que é vivo? O trauma? O milagre? Quem acompanha Anna Violeta quando relembra alguém que “assopra/um rio que ainda arde/band-aid/merthiolate/sobre os meus joelhos/e s f o l a d o s”? O rio que ainda arde é um dispositivo com o qual a poeta encontra aquilo que passou, aquilo que se perdeu – em outras palavras, aquilo que morreu – em sua forma viva. Assim o trauma (que tão frequentemente se converte numa nova corrente de associações neuróticas em nós, com as quais nos defendemos dessa forte impressão do passado) se converte positivamente em outra coisa. Uma coisa viva.

As coisas vivas são milagres. O que é um milagre? Hannah Arendt argumentava que o milagre deveria ser incluído entre as faculdades humanas, porque o ser humano é capaz de dar início a coisas sempre novas. Em outras palavras, suas ações podem ser tão imprevisíveis que elas não obedecem às correntes da lógica – e as quebram. A ação humana pode ser milagrosa porque tem em si a forma do inacabamento. “Amar é/ nunca completar o álbum”, nos diz Anna Violeta.

O vivo no vivo é um palíndromo. Pode ser lido nas duas direções. Um presente para converter trevas em luz e luz em trevas. Um vagalume. É o que precisamos agora, nestes tempos estranhos. Essa força alquímica do que vive: a capacidade de ver “em carne viva/à flor da pele”.

Rafael Zacca

_outras informações

isbn: 978-65-5900-051-7
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5cm
páginas: 88 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2021
edição: 1ª

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