Minha mãe já não enxergava os filmes como antigamente. Imagino que a repetição tenha feito do registro semente originária, objeto externo internalizado no corpo cujas córneas queimavam e cegavam. “Aumenta um pouco”, pedia a mãe, enquanto bordava algo. A cabeça virada fazia dos ouvidos olhos, que auxiliavam na construção da imagem habitada, trazida do oceano profundo para o raso do consciente. Algo me mantinha distante do filme, da tela, de minha mãe e minha irmã. O pingo na cozinha me incomodava, sempre encontrava algo que me incomodasse. Dessa vez o pingo, a fumaça entre as barras de um portão, a vó e a culpa.