O limiar das fendas

Disponibilidade: Brasil

pero vaz da língua

Entre as pernas do homem, há origem de um continente.
Nele, marés e ondas de saliva em boca levam, afônico, o ser
De um cais-testículo a uma ilha de extensão vertical e rígida.

Ela pulsa, mas só sobrevive quando o céu da boca, encharcado,
Atinge a superfície de sua terra brasílica e rega a vegetação-glande.
É a exceção de toda invasão: esta, não matando, implora e pede.

Quando a navegante-língua desbrava a extensão do mundo, sente,
Estática, que daquela seringueira não deve extrair o látex na tigela.
Português, pois, revertida, fecha-se no navio e parte até outras índias.

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_sobre este livro

A poesia iconoclasta de Douglas Laurindo não propõe, simplesmente, a destruição das imagens sagradas da nossa cultura machista e heteronormativa. Sua operação é a da devoração criadora, com ressonâncias do sonho de Oswald de Andrade. Trata-se, porém, de uma antropofagia particular: devorar o interdito, o proibido, a normatividade e, nesse ato, devorar a si mesmo para recriar-se livre e potente, mesmo na interdição, entre as fendas:

“e como eu caminhasse/por aqueles pátios líquidos/de violência falada,/algo inesperado se via://a fenda é o espaço/estreito no qual o fio/morte e vida termina.”

O desejo nasce nas fendas — dos becos urbanos, do corpo — e manifesta-se despudoradamente na linguagem: varas que latejam à procura de preencher os buracos abertos pelos processos de subjetivação colonizadora de nossos corpos e mentes. Como Adília Lopes, Laurindo está ciente de que esse uso da linguagem constitui “um jogo bastante perigoso” e sabe também que é o único jogo possível, numa sociedade que, desde a infância, fode os corpos queers diariamente, porém lhes censura o direito de foder. Em O limiar das fendas, a violência erótica atinge novos significados, insuspeitos.

A leitora destes poemas ouvirá, entre outras, ressonâncias de Adelaide Ivánova — ignorância deliberada dos “níveis de fala” e produção de imagens que expressam diretamente o que se quer dizer —, Mário de Andrade — o boi como metamorfose da cultura e da palavra — e Dorothea Tanning, de quem Douglas poderia perfeitamente roubar estas palavras: “Por favor, esteja ciente de que irei vacinar o mundo com um desejo de espanto violento e perpétuo”.

Particularmente, este livro me fez lembrar Hélène Cixous: “A literatura como tal é queer”. Douglas Laurindo nos dá uma poesia em que as identidades se diluem: tudo é processo, produção e performance. Devore-a e seja por ela devorada.

Eleazar Venancio Carrias

_outras informações

isbn: 978-65-5900-333-4
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5 cm
páginas: 64 páginas
papel pólen gold 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª

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