O levante das águas

Disponibilidade: Brasil

menopausa

Sem panos de mulher;
Varal de vestidos para as danças despreocupadas;
Abundância em sabedoria;
Namoros livres;
Plenitude de águas íntimas salgadas.
— Elas só brotam aos afetos sublimes.

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_sobre este livro

maré, substantivo feminino

É feita de água e de anatomia feminina a poesia de Leila Tabosa. E seu levante nos ergue com o fluxo de mil enxurradas. Maré brava. Seus poemas percorrem estações da vida e de um mundo que ainda sobrevive graças aos deságues que um corpo-água esguicha. A menarca, o sexo, o gozo, o parto, o climatério, a umidade que redime e reproduz. A água, que rega e se refaz no fogo, reverte a fina poeira de ressentimento misógino que os costumes devotam ao corpo das mulheres. Uma biografia líquida, na flexão feminina do gênero, vivida através das águas. Desde os batismos de uma infância sitiada às revoadas de resistência, sob balanços de chuvas. “Tudo em mulher é água”, diz. E também das águas nascem geografias do olhar. Cidades fêmeas erguem-se dos nossos 70% de água orgânica. Morcegas e guarás voam, caçadoras, sobre os caranguejos do Delta do Parnaíba, que sonham ser devorados por elas. Expõe a água como elemento de poder, controle e sobrevivência no continente Nordeste. Onde a má distribuição de chuvas serviu a governos coronelistas, fabricantes de misérias úteis. Cães e gatos magros incorporam a desapropriação das águas, sequestradas pela ingerência. A especulação que a tudo drena, até mesmo a praia. Roubando o lúdico dos faróis, jangadas, brinquedos de mar. Das águas nascem um herói cearense: Dragão do mar. E um rio lar potiguar: Mossoró. Onde uma gata sarnenta regurgita a dor de etnias indígenas exterminadas, lambendo o dorso envenenado. Não há tréguas para o que a vida vaza. Seus poemas têm tempestade. Sangram. Recitam. A água, toda fonte de vida. Resíduo de infância. Vestígio colonial, elemento civilizatório. Casa. Verbo onde escorre o começo e o cerco ao que nos resta de humano. A exemplo de João Cabral e Sophia de Mello Breyner, Jorge Amado e Zila Mamede, o leito da poesia de Leila se deita sobre o desejo de desvelar as mãos que secaram os rios, que medraram as veias do sangue exploratório. E corpos fartos de chuva. A água-corpo-poesia é uma força maior que os diques, extravasa. Um fio de água, como um fio de sangue, conduz o corpo revoltoso a uma vida contracorrente. Não cede às rochas. Não cabe no cabaço comezinho da falsa moralidade. Água placentária, de onde outro corpo germina, explosivo. Atravessa a vida como um rio que é tangido do córrego. Se recusa a deixar de escoar. Transforma-se em flecha. E nos atinge em cheio. Envolve-nos numa escrita de estuário. Doce, salgada. Viva. Oásis. Tal qual sua Ilha de Cajus.

Daiany Dantas

_outras informações

isbn: 978-65-5900-889-6
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5 cm
páginas: 64 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2025
edição: 1ª

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