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O cheiro das belas balas

Disponibilidade: Brasil/Europa

Assombro o relógio, persigo as horas,
declaro guerra ao tempo
Existo momento, guilhotino a janela,
cerro a porta ao instante
Humilho o papel, estendo o lençol,
aguardo-me fim fatigado
Esmago o piano, conspurco o livro, lanço-me nu ao rio

Corto a cabeça da boneca, corto o pelo do cão,
desassombro-me
Olho nos olhos do ídolo, desmascaro-o,
cuspo-lhe na roupa nova
Arranco as asas do anjo,
arranco a minha mão desnecessária
Mão de ferro forjada, esguicha o sangue
e domino-o à dentada

(A torre, página 24)

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_sobre este livro

O cheiro das belas balas não é simplesmente uma colectânea de poemas. Lê-se mais como uma rapsódia: uma sequência de episódios fortemente contrastantes (expressivamente contrastantes, como o contraste que o próprio título exemplifica) no que diz respeito ao tom emocional, temas, ideias, e, sobretudo, nas experiências que evoca. Porém, a sucessão contrastante desses episódios conta (ou canta, à maneira do rapsodo ou bardo) uma história que não é a história deste ou daquele indivíduo, um relambório de alma dorida. A história aqui contada tem um ponto de vista mas não um sujeito definido. É uma caixa de ressonância, em que as experiências e afectos de uma geração se cruzam e amplificam, condensadas numa voz, num momento, numa imagem. É uma história de fantasmas, no duplo sentido da palavra: presenças espectrais do que já não é, mas, de algum modo, continua presente; do que não chegou a ser, mas tampouco deixou de se fazer sentir; mas também as imagens, os escolhos da imaginação, a lenha imaterial da ideologia. O modo como começa e as palavras com que termina são emblemáticas: o confronto do pensamento com o horror da indiferença, o esquecimento, a desilusão com a travessia, as promessas de um mundo não materializado, congelado como imagem, ícone do nosso cinismo e de um inerradicável idealismo que não consegue deixar de cantar a redenção possível: amor, amigos, um obrigado (imenso) pelo indizível. Uma maneira de ler este poema, rapsódia de poemas cosidos com o fio de duas paixões que se negam mutuamente e no entanto não podem não ser juntas (gémeos siameses, o exílio da síntese que não se resolve, porque o progresso era mentira), é como um responso dos vindouros (cabrões de vindouros!), a geração que cresceu e viveu com o rescaldo da festa (somos a recordação do momento que toma o lugar do momento propriamente dito). Quem leu bem a insuperável rapsódia do Portugal contemporâneo (refiro-me a FMI de José Mário Branco) entende o que quero dizer. Não só o mar e a travessia, as interpelações directas, mas os motivos, que aqui têm eco e desenvolvimento, transmutação.
Este texto é, antes de mais, honesto, nas palavras certeiras do autor: “a vergonha do meu poema é a necessidade do meu poema”. Não escolhemos o que somos, apenas viver o que somos. Porém, as emoções a que o André dá aqui forma e corpo são nossas. Porque são assim, tão profundamente nossas, podem, enfim, ser de toda a gente.

Vítor Guerreiro

_outras informações

isbn: 978-65-5900-959-6
revisão: Victor Negri
imagem da capa: Elisa Scarpa
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5 cm
páginas: 72 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2025
edição: 1ª

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