O barulho da chuva caindo… Para um homem nascido e crescido no campo, entre secas, sempre esperançoso, quando há chuva a alegria é maior. É a tradução da beleza na alma de quem nasce no campo. Só pelo título já podemos entender a chuva que cairá em nossas “lavouras”, alimentando a terra para que floresça e dê frutos. A escrita de Rafael é limpa, sem rasuras, e envolvente. Desde o começo das histórias, a partir de “Espirradeiras”, até o final, em “Uma lembrança esquecida”, o leitor verá a perenidade nos enredos, as costuras belamente feitas, técnica e emocionalmente. Trama corrente. Uma renda cosida com os enredos da vida; entrelaçadas pelas mãos de um mestre, já temperadas na poesia. Agora a correr com harmonia pelos campos da prosa com total conhecimento do chão por onde anda. Mente forjada na terra, com seus cheiros e sabores. Em cada canto do livro, uma joia exposta à visitação. Portas abertas a cantos/contos aconchegantes. De dentro — das histórias — é que é possível ouvir o barulho da chuva caindo.
Tudo ocorre como se as rendas — as tramas — fossem feitas sem o auxílio das mãos: apenas mente e coração direto no papel. Só um artista que tem a circulação literária natural nas veias, como sangue — e é —, os batimentos cardíacos no ritmo da criação, é capaz de construir textos densos e leves ao mesmo tempo, na mesma trama. Os contos são narrados com galhardia, passeio de paisagens deslumbrantes, com natural espanto, como se a tomar um copo d’água. Tal é a força na literatura de Rafael: a fonte da qual bebe produz beleza.
Se não houvesse um nome a identificar o autor, seria perfeitamente possível enxergar as estradas de Graciliano, Adélia… É Rafael de Souza. Com todo o seu talento a desfilar por suas estradas, jardins, planícies, rios, matas. Cachoeiras de emoção — sem perder o tino — a cobrir os olhos nos solavancos e descansos das páginas. Tempo vivo no coração do leitor.
Trata-se, portanto, de um livro de certezas: técnica irretocável, dosagem de emoção absolutamente equilibrada, liberdade sem medida… Eis que grande livro chegou às mãos dos leitores. Por certo aproveitará cada palavra que compõe o enredo dessas histórias com fome: e será saciado, por certo. Claro que ficará o desejo da repetição.
O barulho da chuva caindo tem cheiro, sabor… vida corrente. Viva!
Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti