Louise Bragado me parece silenciosa e radiante. Mansa por dentro. Um tanto mais, talvez.
Conheci essa moça em uma tarde de sábado, na ensolarada Copacabana, em horas de leitura, escrita e conversas. Mulheres diversas, em vidas, tempos, nascimentos, dores e delícias, guiadas por um delicado moço. E seguimos nos visitando e acompanhando no virtual.
Louise fala sutilezas, solidões e companhias, palavras e vozes. Inteira.
Em seu Naquele ano eu era calada e triste, a ausência de Marília pega o leitor pela mão e leva para a roda de sua vida e partida. Roda de medo, fé. De mulheres em tripa, coração e estômago.
Pedaços em listas.
Pedaços de todas e todos nós.
Pedaços urgentes.
Pedaços de calma.
Pedaços de quem ainda não sabe.
Pedaços de ir e não ir.
Pedaços de pandemia.
Pedaços de vida real.
Uma vida imaginada para sobreviver. Uma vontade de processar Deus. Pães em uma sexta à tarde. Um passeio de bicicleta no domingo. Um pouco de Marília embalada na mudança. Coisas a dizer todas as manhãs. Crer em Caetano como Caetano crê em Gil. O desenrolar invisível das coisas. Pertencer a algo que escapou. Transar até morrer de sede. A celebração de uma chaleira a apitar. Redução de danos. Mãos sujas de afeto. Mover o luto para uma dimensão de cuidado. Deslumbramentos.
Um direito de amar em público sentado na sarjeta, porque nesses tempos de governo canalha os direitos andam livres nos livros, não nas ruas.
Uma arquiteta e uma publicitária provando o paraíso antes do inferno. Pedaços.
Uma leitura aos pedaços mas em respiro único. A gente começa pagando a funerária, termina em estado de poesia. E segurando a mão que Marília deixou só.
Bárbara Anaissi