mapas dos campos minados é um corpo de poemas explosivos. aqui, o cotidiano é bélico, a repetição dos movimentos mais banais da vida é apresentada como ruínas que insistem.
claudinei sevegnani soube, com a beleza que a poesia pede, revelar o cansaço existencial em lidar com sentimentos-pensamentos que exaurem a história de cada coisa. a repetição de movimentos, como se sentar e se levantar, aqui poderá ser uma curva para a exposição de uma dor; os poemas, neste livro, são pilhas complexas de dor, por isso a leitura vai despertando um desejo enganoso de que o autocuidado fosse derrubar a poesia, fechar o que te faz melhor ver, porque neste livro cada poema parece mesmo ter se aproximado da vida. e estes a apresentam como um acúmulo de incômodos e ausências.
no poema “procedimento nº 01 — objeto” lemos o verso: “mapear o perímetro do acidente”, e a imagem/ação desse verso é exemplar para pensar o exercício de escrita deste livro como um narrar sobre o ordinário, a interdição da fala, a proibição do sentir, o afundar-se nos próprios desejos.
do expor a exaustão ao mais refinado exercício de escrita, mapas dos campos minados vai nos apresentando esse mapear acidentes como uma prática possível para a leitura e produção da poesia; este livro te apresentará referências, te afundará e te fará ressurgir em sentimentos.
este livro tem medo do desaparecimento do amor e da liberdade e, por isso, este é ainda um livro sobre esperanças; o escrever aqui, sem deixar de ser revelador, ainda assim nos ilude, este livro pode até chocar um ovo (contra tua cabeça).
os poemas aqui escritos podem não te responder nada, mas, sem uma duvidazinha só que seja, te digo: este livro seguirá expondo em tua cara imagens de uma investigação de coisas absurdas, fissuras que se abrem no cotidiano e que nos obrigam a seguir pulando sombras, que são mapas da queda.
este livro enche nossas cabeças de perguntas, ao passo que parece derrubar nossas pilhas de importâncias. mapas dos campos minados aponta que a poesia é um caminho possível de resistência ao cotidiano: a repetição exaustiva de tantas opressões do mundo. este livro questiona as marcações que definem: corpos, dança, poesia, dor, teatro, planta molhada. os poemas aqui questionam a colonização de nossos sentimentos.
a poesia pode revelar a nossa exaustão, mas ela será principalmente assustadora para aquelas e aqueles que ainda não sabem que estão cansades.
luciany aparecida