porque deus cavou
um poço no meu peito
me estendeu o chão dos acidentes
e me ensina — não desde o berço —
a suportar na língua o fechamento dos horizontes
ter nascido com a diligência do buraco
me faz crer em amparo divino, travessia para ressurreição
mas vejo em minhas mãos um cancro inaudível
o mapa sem rota dos dias, o retrato de uma solidão
o tempo que me pesquisa esfolando meu sangue.
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_sobre este livro
_sobre este livro
escrever como quem busca o sangue, a água em que nunca estive, a boca que guarda a descendência de meu nome, a cura para a infecção paterna.
ter o dorso desabitado de nascença.
ser um canal, um abcesso numa língua.
estar líquida dentro da ferida.
costurar no peito uma era geológica, saber de sua própria extinção,
celebrar o incêndio.
investigar modos de morar mesmo em exílio.
exercer o mistério através da boca faminta de deus, saber que ele também é desnível,
e sua linguagem, uma queda.
ser irrigável.
o poema é uma imagem que queima.
o poema é um mar aberto.
Raquel Gaio
_outras informações
isbn: 978-85-7105-003-7
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 50
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2019
edição: 1ª