livro do daniel e outros textos

Disponibilidade: Brasil/Europa

lamento não poder olhar-te nos olhos —
tentarei criá-los através das palavras
para que nos possamos ver
de alguma forma —

observar-te a partir da escrita,
na leitura
ser observado.

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_sobre este livro

ler sempre os mesmos textos e meditar no que varia é uma forma de oração e tu tens feito parte das minhas: dás-me noites, madrugadas e manhãs, em que uivam cães e alicerces e a fronteira entre dormir, sonhar e hibernar se esbate, nada é uma coisa, nada é uma ou outra coisa, gosto das tuas triplas enumerações, há “noites, visões, sonhos” (“abertura”), “sonhos, visões e curas” (“xlvi”), “a criança, a noite, a fantasia” (“lxviii”), “o braço, a mão e a nuca” (“lxxi”), “a nobreza, a fidelidade e a ternura” (“lxxiv”), “as mãos, o pescoço e o cabelo” (“lxxv”) e até deus e os profetas são “ela-ele-isso” (“xxv”), “feminino, masculino, não interessa” (prolongamentos); ouço-te chamar o amigo cinquenta e duas vezes, quantas as semanas do ano, num diálogo possível com várias vidas de intervalo, para lá da unidade de tempo e espaço que, às tantas, nunca existiu: perguntas “e se entrasses num corpo de carne e osso/ e viesses ter comigo?” (“vii”), respondes “talvez/ só depois de mortos/ possamos ser considerados de carne e osso” (“x”) e concluis “o que circundo é o meu nome —/ fantasma de carne e osso” (“lxi”), o teu erotismo de-mãos-e-cabelo tem a força de ser tanto sobre ele como sobre ti; na noite escura da “vontade de dormir na desordem” (“xxx”) e “sonhar com a desordem do corpo inteiro” (“xviii”), o desejo parece ser por vezes uma aparição de cura, mas nunca é, não nesse sentido nem para o vazio, há em nós uma solidão essencial, não nos completam, “locupletam-nos” (lii), esse estranho verbo que aprendi contigo: a nós que somos como um locus mal situado, muito nos pode preencher, enriquecer, sem nos fechar; escreveste “conheço quem não leia livros —/ imagino que seja porque queiram saber/ para onde serão levados” (prolongamentos): este é dos que começa e segue em dúvida, o “tentei” que abre, um “não sei” (i), o último verso condicional, consciente de que cada livro pode ser o derradeiro e, ainda assim, não acabar aí; por muito que o medo às vezes nos consuma e nos apeteça desaparecer em silêncio, já houve demasiadas revelações de fim do mundo para que achemos que algo realmente termina: então manténs-te “taciturno/ mas cintilante” (“xxv”) como uma faca de cabo velho que ainda brilha, a distorção do reflexo é dado adquirido, mais vale assumi-la, morrer é trocar de rosto e “de todos os livros/ os da morte são um incêndio” (“iv”); tu, por exemplo, sei que te tens rasurado e, por mim, podes chegar a chamares-te ille, quase-ilha, quase-comunidade, um pronome neutro — tu o disseste, “torna-se difícil falar em unidade” (“xxiv”), mas “também a perfeição é múltipla” (“lxv”) e continuas.

paulo brás

_outras informações

isbn: 978-65-5900-758-5
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5 cm
páginas: 122 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª
imagem da capa: Elisa Scarpa

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