Geografia dos lugares-comuns

Disponibilidade: Brasil/Europa

Quando voltar do exílio, prometo
relembrar-te todos os lugares onde foste.
Dentro do meu peito, ocupaste por inteiro
o lugar do coração que, na partida,
se pôs do tamanho de uma semente.
Devo-te, por isso, a vida.
Quando voltar do exílio, espero
retomar a coragem de crescer
árvore com copa e frutos,
que nos dêem sombra e doçura às
memórias da tarde quente.
Quando voltar do exílio,
se alguma vez voltar do exílio,
porque voltar é, também,
uma espécie de asilo
da loucura que foi deixar-te.

(Exílio, página 33)

 

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_sobre este livro

Coibir-me-ei de grandes biografias, mas eu fui editor. Ainda sou, vá. Mas mesmo editor, esse, eu já fui. As Quasi nasceram vai para 25 anos e viveram dez anos de sofreguidão, ânsia, fascínio, paixão. No fim desses dez anos, os erros meus, a má fortuna e o amor ardente colocaram um ponto final ao sonho. “Agora tenho maturidade para definições, e, no meu dicionário, primavera rima com desilusão.” Foi no outono, mas a metáfora serve bem.
Desde aí tenho editados muitos e bons livros. Mas, primeiro na Babel e depois como consultor editorial, sempre com alguém ou alguma coisa a balizar as minhas decisões. E isto implica uma coisa: há sempre condicionantes para o que quero ou não publicar. Chama-se ser maior, talvez.
Este pequeno preâmbulo serve bem de exemplo ao que aqui vão ler mal decidam — e bem — comprar o livro. (Podem parar a leitura da badana e ir pagar. Eu espero. Vale muito a pena, podem confiar.)
Eu queria ter publicado este livro.
Mas a minha primavera outonal é o ganho da Urutau, pelo menos isso. Tem, no seu catálogo, uma nova geografia — a dos lugares-comuns.
Sim, a poesia voltou-se para o quotidiano ainda com mais premência do que há vinte anos, a altura em que lutas intestinas em hebdomadários tinham de um lado os sublimes e do outro os franciscanos. Mas este livro revolta-se de outra forma: com graça e saber.
Veja-se o poema de onde tirei pretexto para estacionar o ano: “A primeira vez que me apaixonei por ti, arrombei tudo”. Pronto, está o caldo entornado. Mas isto de apaixonar, se for para contar vezes, não deve ser para contar também apaixonados? O poema comum tem um risco: ser gratuito. Os da Daniela Frias Guerra não são de graça (como bem sabe, agora que pagou o livro, caro leitor), mas têm graça e são pertinentes — porque têm uma ideia e um olhar novos para onde nos guiam.
Já escrevi dezenas e dezenas de biografias para outras dezenas e dezenas de badanas. Mas esta é a minha primeira badana assinada. Tem um bocadinho de mim, narciso que sou. Mas que tenha bem mais da vontade de ler os poema da Daniela Frias Guerra.
“Há um sítio onde as estações descaem/e o pigmento de outono nos sobe à boca.” Estava eu a sentir-me aconchegado na minha citada tristeza outonal quando leio: “É nesse sítio que o infinito, tão/perto, nos toca nos fios dos cabelos/e faz mais por nós do que um suspiro.” Afinal, é preciso deixar de poder editar com ânsia e sofreguidão para ser tocado pela possibilidade de nos associarmos com todo o nosso nome a um livro de que gostamos.

Jorge Reis-Sá

 

 

_outras informações

isbn: 9978-65-5900-769-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5 cm
páginas: 84 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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