Dura irradiação

Disponibilidade: Brasil

a ideia de que
amanhã a vida
segue como se
nada tivesse
me ocupado
termina na hora
em que releio
o que acabei de
narrar em pape

R$50,00

_sobre este livro

Como abertura de seu segundo livro, Carlos F. B. Martin colheu no diário de Patrícia Galvão uma imagem que emprega como epígrafe. A breve frase torna-se uma espécie de farol para a leitura de Dura irradiação. No entanto, não esperem por uma luminosidade que a tudo entrega. A luz emprestada de Galvão ilumina detalhes tão sutis quanto indispensáveis para a travessia do conjunto de poemas, impedindo que naufraguemos com interpretações alheias à sua matéria poética: a imbricada e complexa relação entre subjetividade e o mundo externo. As marcas são visíveis, umas no corpo, outras no pensamento.

Numa conjuntura em que os eventos se sucedem no ritmo desenfreado dos algoritmos, cabendo a nós o papel de uma apática plateia, somos aqui instigados a perceber o quanto da realidade se sente rente à pele e à língua. Cada gesto e cada cena, ainda que domésticos, estão impregnados do que se dá no lado de fora. O movimento imagético de Martin nos leva ora por estreitas trilhas íntimas, às quais visualmente representa por meio da concisão dos versos, ora pelas grandes vias dos argumentos, sem se perder na amplidão e generalização das figuras, pois segue sem desvios na direção indicada.

Apesar de aquelas marcas se confundirem conosco, o que sugere a permanência indelével do passado, tudo o mais parece se sujeitar a uma inevitável transitoriedade. Para impedir que o vazio se alastre é que lançamos mão da linguagem e de sua função de descrever e, portanto, de estruturar a existência, dando a ela um sentido. Se nos satisfazemos com a utilidade da fala cotidiana e da memória, com o poema atingimos um ponto mais elevado, pois por meio dele conhecemos o mundo e a nós mesmos de um modo singular e único. A cidade vista pela poesia é distinta daquela que vivemos rotineiramente.

Paisagem e retrato são uma face da cidade, a outra é feita de voz e de ideias. Pode parecer concreta, mas sem uma narrativa que a organize, não existiria. O poeta nos guia por ela, por suas ruas e discursos, é ele quem nos apresenta os caminhos a percorrer e os sinais para identificar seu curso, o que experimentamos na passagem dos poemas, compreendendo o ritmo da sucessão dos temas escolhidos e como um ecoa no outro, revelando sua trama. Aliás, Martin nos alerta para o conflito entre matéria e palavra. Não podemos vencer, mas tampouco seremos vencidos, restando no poema o resquício de um tempo em que o mundo dormia, como ainda dorme diante das crianças que são assim capazes de fabular, essa forma ingênua de narrar.

Paulo Ferraz

_outras informações

isbn: 978-65-5900-821-6
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5cm
páginas: 52 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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