Cosmos e casas

Disponibilidade: Brasil/Europa

sendo o coração pedra,
estrutura regular poliédrica, cuja morfologia
move em constante vocação hialoide,
o embuste do silêncio incide

 

R$45,00

_sobre este livro

Cosmos e Casas é o livro de estreia de uma poeta que pressentimos vir de há muito constelando vozes, e que logo de entrada, “sendo que amor e palavra alinham distâncias,” assume o ofício de fiar versos para constituir e cruzar corpos, para correr riscos, para descobrir (mas não colonizar) o eu, para ligar e se alterar. Daí também, desde o início, a assunção da aventura do amor, desafio e metamorfose no outro pela palavra, a reivindicação e dádiva de uma encarnação: “sou teu corpo / dito / génese.” Transmutando-se, prossegue-se pela aliteração e pela invenção das imagens, por guinadas de sintaxe e dobras de morfologia (por exemplo adjetivos a agirem como verbos). As associações não surgem meramente por contiguidade mas por ondulações e feixes, procurando ramificados desenhos, mais amplos e melhores prolongamentos, a desfazer convenções e espartilhos, a pretender uma compreensão do cosmos à margem da discriminação do logos: “Em vez de ciência crua quero tratados alquímicos pura magia tudo o que existe e se conquista pelo sono ou se expande no segredo da meditação”. Não que se rejeite o que revela o conhecimento científico, antes se valoriza o seu abalar do sólido, o desfazer da ilusão de ser fixo o solo: “a crosta afinal terreno / móbil resvaladiço içando fraca barreira / ao avanço líquido”.
Crente na emergência a partir do movimento, esta poesia evita dualismos, e, imbuída de uma ironia capaz de matizar acusações, não se demora na mera contraposição. Se “Madame Bovary” ou “Princesa de Clèves” lamentam a tipificação literária da mulher dividida entre a liberdade passional e a circunscrição social, nestes textos vai-se descobrindo um feminino lírico capaz de se reinventar, de se multiplicar, inclusive de alargar o sentido da maternidade além da biologia, da família ou da genealogia – a um fazer da comunidade, ao evento generativo do poema: “a palavra cantante / o verbo ardente / muro vivo do poema / corpo sílaba / sangue” . Por outro lado, se há em certos textos revisionismo literário, há, acima de tudo, restauração: dos textos e ritos sagrados em que a palavra é corpo e profecia, em que poesia é oração e êxtase, de uma tradição espiritual herética e erótica, evocando o “Cântico dos Cânticos” ou o misticismo desejante do andaluz Al Mut’Amid, bem como legados de sabedoria e visões sagradas do Oriente. Comparecem ainda a música e uma memória moldada pelas artes visuais (“imagem treme tangente tragando resquícios por ela conduzo”), e celebra-se, pelo saber dos sentidos, enfim, a união dos corpos como ascese caleidoscópica a mais vastos planos, de que a palavra é inscrição, gesto de mistura e desvendamento: ou “as mãos entrando na pele / até outro reino onde somos um no outro.”

Margarida Vale de Gato

_outras informações

isbn: 978-65-5900-176-7
idioma: português
formato: 12x16,5 cm
páginas: 108 páginas
ano de edição: 2021
edição: 1

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