Lerelereler o poeta não cabe em si. Incapacidade de poetas.
Neste caso, Iago Ribeiro não expõe relatos. O prazer de sua escrita atual está em utilizar o que é contemporâneo, dialogar com seus pares, dar vazão ao pensamento. Não lhe é suficiente o léxico: desde o título, juntando “aquiagora”, pois no átimo da leitura tem o espaço e o tempo permanentes e o desejo ou a necessidade de partidas.
Ele fala do corpo de órgãos embaralhados e do inconsciente, o ser e o tudo. Dedica o livro ao nosso mestre maior de criação de cômpitos, pois as palavras e logo os enunciados estão em bifurcações de significados que não estão apenas em dicionários.
Iago conta seu “Estórico de navegação” como uma eroica talvez gostaria de erótica des ave ventura. É o evento. Não há meta no percurso. Na rota ao nunca: mesmo a desistência fingida, pois sempre existe quem escreve, “por que te sujar com rostos, nomes? (…) Que amante sou eu (…)? (…) uma promessa”. Mas se ele nem sabe: é o alienígena: o que chega e o que está.
“Abstratos”, segunda parte do livro, é também um segundo livro. Atinge o tudo-ser, o não-ser, o muda-ser somatório de pontos que no auge forma um padrão como foi a superação do figurativo no início do século passado. “Informe querer-que-cesse”: a partida permanente sem figuras.
Se em O Quarto Chinês (Ofícios Terrestres, 2023) Iago Ribeiro tinha como principais temas o silício e o gozo e a dor das crianças do futuro, de Turing, neste livro, em textos que fazem lembrar aforismos nietzschianos, registra navegações e encontros rarefeitos em um programa que roda sem sujeito nenhum e que não encontra norte nem morte.
Para os “nunca-amparados” lereler — Auto da partida permanente quando da ocasião de um qualquer aquiagora — ficando aí na cibersintaxe deste aguçado autor.
Guilherme Zarvos