Águas oníricas é uma obra poética que transcende os limites da linguagem comum, mergulhando profundamente nas correntes misteriosas do inconsciente humano. Cada poema reflete as emoções mais íntimas e as reflexões mais profundas da autora, criando uma paisagem literária onde sonho e realidade se entrelaçam.
Desde o início, com “Diagnóstico”, somos confrontados com a ideia de que a verdadeira essência da poesia pode ser sufocada pela tentativa de patologizar as características únicas do indivíduo. A autora resiste à conformidade e ao controle, celebrando a liberdade da mente e da expressão criativa.
Os aforismos que pontuam a obra, como “O silêncio é uma erva-doce” e “Sem o mistério a verdade não existe”, são momentos de pausa que nos convidam a uma reflexão mais profunda sobre a vida e a existência. Eles servem como lembretes de que há uma riqueza imensa nas pequenas coisas e no não dito, capturando a essência da experiência humana em poucas palavras.
Em “Paisagens próximas” e “Deteriorando”, a vulnerabilidade e a introspecção são exploradas com uma honestidade crua. A autora nos guia por cenários de luz e sombra, onde a fraqueza e a autossabotagem se revelam.
“Felina” e “00 horas am” expressam a essência selvagem e sensual da autora. A imagem da mulher-gato, simultaneamente dócil e feroz, se entrelaça com a noite insone na qual a autora se reinventa e explora sua identidade. Há uma dualidade constante entre o dia e a noite e entre o controle e a liberdade que permeiam toda a obra.
Os poemas “Encantamento” e “Selenofilia” nos transportam para um universo de fascínio e enigma. A relação da autora com a natureza e os astros é quase mística, uma dança entre o real e o onírico que nos faz questionar nossa própria conexão com o mundo ao nosso redor.
Em “Pessimismo” e “Taciturna”, a melancolia e a apatia são exploradas com uma profundidade tocante. Os dias nublados e as noites que demoram a cair são metáforas para a estagnação e o peso da existência.
Sabrina Morais revela a beleza da impermanência e da espontaneidade, nos convidando a abraçar o caos e a incerteza, e a encontrar poesia nas oscilações da vida. Convoca a ouvir os sonhos enquanto o corpo está desperto.
Águas oníricas desafia a categorização e nos convida a navegar por versos molhados de ironia e solitude, cotidiano e cenários imaginários, música e sonhos, em que cada poesia é um reflexo da alma inquieta e criativa da autora.
Viviane Siade