Este livro é fruto da minha pesquisa sobre as experiências na clínica psicanalítica no campo das urgências, emergências e desastres. Com ela, chegamos a uma definição que compreende que a urgência e a emergência são processos em um continuum entre a ausência total de risco de vida e o risco máximo de vida; ponto que só se define pela gradação de três fatores: tempo, necessidade de agir e gravidade.
Um desastre é a combinação de fatores: ameaças, exposição, condições de vulnerabilidade e insuficiente gestão integral de riscos que ultrapasse a capacidade de gerenciamento local. Investigamos os desafios que se apresentam para compreender a operação psicanalítica nesse cenário, considerando o tempo e morte, para, enfim, apresentar um dispositivo psicanalítico em urgências, emergências e desastres.
Neste livro transmito a clínica psicanalítica pelo que dela se escreve e por etapas, tais como: Descrição da experiência prática da pesquisadora; Revisão da literatura sobre a atuação de psicanalistas em relação ao tema; Levantamento histórico e conceitual da relação entre psicanálise e esse campo de pesquisa; Categorização de textos, termos e conceitos mais utilizados no estudo do tema; Desdobramento da pesquisa em ato, ao precipitar uma intervenção em emergência e desastre: o projeto Achar Palavra; Análise da experiência clínica e institucional a fim de elencar, analisar e apresentar os elementos estabelecidos como paradigmas clínicos nesse campo: transferência, tempo e ato psicanalítico.
Noo Achar a Palavra, foram realizados 52 encontros, com cerca de 1800 psicólogos hospitalares de todas as regiões do Brasil, que, por sua vez, realizaram o atendimento eticamente atravessado pelas discussões mobilizadas no projeto, alinhados com os indicadores brasileiros para os objetivos de desenvolvimento sustentável de saúde e bem-estar e educação e qualidade.
Podemos afirmar que o acontecimento-morte e o tempo cronológico não são impeditivos para a operação psicanalítica. Na emergência e nos desastres, o princípio se mantém: a transferência se estabelece a partir da suposição de um saber no psicanalista e o modo como ele responde vai instaurar a possibilidade de sua inserção. A práxis no território exige que atentemos à estratégia, à transferência, e a uma sustentação ética em toda tática que porventura decidamos utilizar. A gestão do tempo cronológico participa do raciocínio clínico da psicanálise em urgências, emergências e desastres, argumento sustentado e apresentado pela experiência clínica propriamente dita e pela explanação sobre o paradigma lógico do tempo. Por fim, creio que esta pesquisa teve como resultado a proposição de fundamentos clínicos para a direção do tratamento em urgências, emergências e desastres, a partir da construção de um dispositivo psicanalítico.
Layla Gomes