A noite dentro de nós

Disponibilidade: Brasil

Se o agiota descesse do carro, de arma em punho, e invadisse a casa, haveria uma chacina? O homem não teve dúvidas, desvencilhou-se do abraço da esposa e foi à porta. Não atire, a gente vai conversar, vou sair, gritou. Escondeu a tesoura no bolso da bermuda, única arma disponível, e se dirigiu ao portão. A esposa soluçava, e os meninos tentavam acalmá-la. Não atire, vou sair, o homem gritou novamente, mas sua voz foi coberta pelos latidos do cachorro.

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_sobre este livro

Os personagens de A noite dentro de nós adotam um tom confessional e mergulham em suas vivências conflituosas, trazendo à luz a noite dentro de cada uma delas. Aqui, podemos atribuir uma conotação patológica à palavra “noite”. Veremos nela uma metáfora para sentimentos como solidão, ansiedade, depressão, angústia — entranhados em seus personagens por um autor seguro do que faz, porque faz como se apenas descrevesse o que observa de sua janela ou do noticiário. O que as retinas e os ouvidos alcançam. E por isso tais histórias são tão nossas. Esses mergulhos psicológicos nos obrigam a repensar nossas próprias angústias e as do outro. Como fica a mente de uma pessoa em situação de rua que foi incendiada enquanto tentava dormir? Refletimos em “A fogueira”.

A noite é o mal. É esse mal de se perceber só, sem saber como ou por que gritar a um mundo de poucos ouvidos. E é assim que estão os personagens de José Nascimento, com um grito na agulha. O que nem sempre é ruim. No conto “O grito”, as bombas, os disparos e a truculência policial não impedem a marcha. A manifestação prossegue. O grito não é sufocado. “Mesmo que acuados, mesmo que não nos restasse outro sentimento além do medo que era quase pânico, não deveríamos fugir. Fugir seria reconhecer o massacre moral”, diz a narradora sobre como responder à selvageria autoritária. Diz a narradora sobre nossos dias atuais. Além disso, se a ansiedade (esse “cansaço” que “debilita as certezas”, como coloca o narrador de “Tsé-tsé”) é mesmo o mal do século, este livro é sobre nossos dias. Se ainda continuamos sendo cruéis com o corpo feminino — como acontece em algumas narrativas aqui presentes —, é, infelizmente, um livro bem atual.

“Matilda quer ler” é, também, um conto sobre o efeito catártico para aqueles que abrem um livro em busca de fugir da realidade sufocante. A noite dentro de nós, livro de estreia do escritor potiguar José Nascimento, certamente seria um desses livros.

Aliedson Lima

_outras informações

isbn: 978-65-5900-412-6
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19 cm
páginas: 80 páginas
papel pólen gold 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª

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