Sabe aquela sensação de uma bomba prestes a explodir? Aquele segredo que, se revelado, mudará a vida de muita gente? Aquela tensão erótica que se você piscar, te beijam?
Essa é a sensação que nos acompanha do início ao fim de 145: O Disque Amizade, de César Amorim. Esse romance que mistura suspense policial com tensão (ou seria tesão?) sexual, nos faz torcer pelo adolescente Henrique, que na década de 1990, numa Natal repleta de novidades e preconceitos (será que mudou?), descobre o Disque Amizade, o famigerado 145, serviço telefônico criado nessa mesma Natal, que “cruzava” chamadas telefônicas de forma anônima para homens e mulheres se conhecerem.
No auge dos seus 17 anos, sendo o garanhão da escola, Henrique esconde a todo custo o seu desejo por outros homens. Ele encontra na chamada anônima do 145 a coragem de manter uma conversa íntima com um “entendido”, que era o eufemismo usado à época para mascarar o preconceito. Esses encontros telemáticos precisavam acontecer nas madrugadas porque se Ernesto, o pai de Henrique, ou Jussara, a mãe do rapaz, imaginassem que o filho único, sonhado pelos pais para ser médico, era “entendido”, a casa cairia. E se, junto a isso, os pais descobrissem que, na verdade, o sonho do primogênito era fazer teatro e não medicina, aí a maldição estaria selada.
No entanto, esse não era o maior dos perigos no caminho de descoberta da sexualidade de Henrique. Nessa aparente pacata Natal, um assassino de homossexuais estava à solta, matando suas vítimas de forma cruel. E adivinha onde o serial killer encontrava as suas vítimas?
“145 – O Disque Amizade” é tensão/tesão do capítulo 1 ao epílogo. Uma leitura que te provoca a descobrir o assassino e a forma como Henrique vai dar conta de seu segredo. E você não precisa ter sido um Henrique, com 17 anos na década de 1990, em Natal, ligando para o 145, para se descobrir gay, como eu fui, para ser cativado por essa história. O romance de César Amorim, além de ser um delicioso thriller, com final surpreendente, é também um mergulho na intimidade de tantos homens que, ainda em 2024, escondem seus desejos e não conseguem viver sua sexualidade abertamente à luz do dia. Homens que buscam refúgio e um pouquinho de amor em aplicativos de relacionamento (o nosso “disque amizade” de hoje) e, muitas vezes, se arriscam em encontros secretos.
Henrique Fontes