Francisca Bartilotti


Nasci no Porto, em 1992. Médica nas horas ocupadas, venho lendo poesia desde que, aos 10 anos, o meu avô me assustava com voz de mostrengo. Leio poesia para outras pessoas ouvirem, desde que desci, pela primeira vez, à Cave do Pinguim Café, em 2013, e não tenho a certeza se haverá coisa mais prazerosa que faça do que ler em voz alta, enquanto alguém ouve e sorri. Já disse poesia para muita gente, nomeadamente nas Quintas de Leitura do Teatro Municipal do Porto. Comecei por dizer poesia escrita por outras pessoas e fui flutuando até ler também coisas que escrevo eu — ver alguém que se emociona com as minhas palavras é das coisas mais deliciosas que já experienciei. Tenho sido itinerante, tendo vivido e trabalhado como médica na Escócia e na Gâmbia e feito várias viagens a lugares longínquos, do Quirguistão à Guiné Bissau, das ilhas Orkney ao interior do Ceará. Adoro dizer às pessoas que Eduardo Galeano conta que, em turco, as palavras caminhar e coração têm a mesma origem e que, em mim, nunca existirão indissociadas. Para além de ser médica e de escrever e ler em voz alta, gosto de tocar piano, guitarra e acordeão, de nadar em água fria e de ler e relacionar muitos assuntos aparentemente aleatórios. Virginia Woolf descreve a realidade como algo errático, de que não podemos depender, que aparece de formas aleatórias nas flores do campo ou nos autocarros na cidade. Como algo que torna permanente tudo o que toca — a realidade é o pó que se apanha dos dias, do amor e do ódio. A escritora, para Woolf, teria uma capacidade acrescida de ver a realidade e de partilhar com o resto das pessoas os detalhes quotidianos que nos fazem estar presentes. Com o que escrevo, pretendo partilhar esses momentos de realidade que se me tornaram visíveis e que, por isso, foram cristalizados no papel.