A ARTE DE 22 INSPIRA ZEZÃO
Feira de Santana, 2021
Com o faro de jornalista, Zezão, o poeta, escreveu este Cordel sobre a “Semana de Arte Moderna” que, agora, em 2022, completa 100 anos. Evidencia, assim, que o gênero ganha novo público de estudantes, professores, classe média e intelectuais, visto que o tema não é tão popular no universo de folhetos. Universo esse que o curioso e irrequieto grapiúna José Carlos de Castro Junior está estudando, com foco para o início do Cordel na Bahia, quando houve, dentre outros, o cruzalmense Permínio Lírio e o colega Augusto Ferraluso.
Em 1849, por exemplo, quando o negro Lucas da Feira foi enforcado na Vila de Santana da Feira, houve a motivação para a publicação pioneira (até onde a história alcança) de um cordel no Brasil, o “ABC de Lucas da Feira”. Antes desse, os abecês eram de propagação oral ou manuscritos.
Todavia, este folheto-reportagem de Zezão, com mais de 150 estrofes, segue a tendência atual do gênero, manifestando-se em obras mais grossas e linguagem mais rebuscada, para ser publicada num chamado “Cordelivro”. Por sinal, bom saber que obras assim já interessam editoras e a livrarias. O formato se reinventa, ganhando prefácio, como nas publicações tradicionais e eruditas.
Na década de 1970, em São Paulo, numa iniciativa do poeta Cláudio Willer, comemoramos os 50 anos da Semana no mesmo Theatro Municipal de 22. Na ocasião, declamamos o folheto “Carta dum Pau-de-Arara Apaixonado pra sua Noiva”, com o devido humorismo de cacófatos e a empulhação de duplo sentido.
O certo é que Zezão Castro está se firmando como um dos valores da terra que já deu Cuíca de Santo Amaro, Antonio Teodoro dos Santos, Antonio Alves dos Santos, Minelvino Francisco Silva e o alagoano Rodolfo Coelho Cavalcante, que atuou na Bahia, dentre outros.
Autores modernistas, como Mário de Andrade e Manuel Bandeira, e pós–modernistas, como Jorge Amado, Carlos Drummond, João Cabral e Ariano Suassuna se inspiraram no Cordel como uma base de cultura e seguem, aqui, também, representados.
Franklin Maxado