Tornada

Disponibilidade: Brasil

a linguagem poética
me fez estrangeira

meu desejo era voltar pra casa,
mas a casa caiu

R$52,00

_sobre este livro

Neste livro, Hortência Siebra nos convida para o jogo desde o título: afinal, seria “tornada” o particípio passado do verbo “tornar”, um adjetivo com o sentido de “que voltou”, ou uma pequena transgressão linguística, possibilidade feminina do substantivo “tornado”?

Lendo o livro, não podemos ter certeza, o que é ótimo, uma vez que a leitura que me parece mais interessante é pensar que “tornada” é as três coisas a um só tempo: tufão que faz remoinho e um sujeito lírico aqui torna(-se) e retorna: aos sentidos, a si mesma, a algum lugar de onde partiu.

Desde o poema de abertura, somos convidados a pensar sobre o “princípio”, ou melhor, sobre “antes do princípio”. Intitulado “criacionismo”, ele nos diz:

antes do princípio,

havia uma entidade

descontente

e sobretudo só

O poema seguinte nos situa no campo da investigação sobre a linguagem poética:

 

diário

a linguagem poética

me fez estrangeira

meu desejo era voltar pra casa,

mas a casa caiu

A escrita, seja ela de poesia ou de prosa, sempre nos convida para alguma categoria de jogo: situada entre o autobiográfico e ficcional, esta é uma partida em que aquele que escreve, sem poder escapar de si mesmo, é, ao mesmo tempo, irremediavelmente alguma espécie de alteridade, um sujeito outro, capaz de olhar a sua própria língua com estranhamento.

Escrever também é sempre retornar, já que não há folha em branco. Escrevendo em 2024, com uma longa tradição que vem antes de nós – mesmo sem que tenhamos plena consciência disso – encontramos a página já toda escrita. Cabe à poeta retornar – a poemas, a autores, a temas, e relacionar-se com aqueles que lhe interessa. E, nesse caminho de volta, cabe a ela, também, multiplicar os estranhamentos, jogar o tufão sobre quem a lê, insistir e teimar

(…)

até achar jeito novo

que sustente

o meu nome

no fim

Hortência Siebra

O percurso da “Tornada” tem tudo isso. E tem bom-humor e fofocas misturadas a histórias trágicas e poemas “matemáticos”. Com uma linguagem condensada, acertada e precisa, Siebra não nos fornece respostas definitivas (ainda bem!), antes no convida para retornarmos, uma vez mais, a cada poema e investigarmos as possibilidades de resposta com ela. E não é isto mesmo, esse eterno retorno em cujo percurso levanta-se um tufão, a essência de cada poema que nos acompanha?

 

Lilian Sais

Escritora e educadora

_outras informações

isbn: 978-65-5900-789-9
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x16,5 cm
páginas: 108 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2025
edição: 1ª

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