“Olha, eu não faço essas coisas, não. Não sei o que falaram pra senhora, mas…”
“Que não faz o quê, menino? Pensa que eu não sei? Vem logo! Não quer ganhar seus dez cruzeiro?”
“O quê? Dez conto? Isso aí não vale nem uma punheta!”
“Que punheta o quê, moleque?! Acha que eu vou fazer você gozar e ainda pagar pra ficar na mão? Pra ganhar dinheiro aqui cê vai ter que comer buceta! Bu-ce-ta! Vai ter que foder aqui, ó!”
R$52,00
_sobre este livro
A idade da pedra de São Paulo na velocidade do fim do mundo. O vício do crack, e tudo o que o cerca, nunca havia sido retratado como nesse Dinâmica da evaporação de corpos sólidos, de Alexandre Boide. Como ex-adicto, não em crack, mas em cocaína, conhecedor da etiqueta e das regras sociais que regulam a vida entre “noias”, me vi muitas vezes tragado pelas páginas que narram o ciclo sem fim do “descolar-e-usar”, da brisa que a “dinâmica da evaporação daqueles pequenos corpos sólidos” oferece pra quem se envolve na esparrela do vício em algum tipo de droga pesada.
Da forma como o autor vai delineando a vida de seus personagens, trata-se de um verdadeiro romance de (de)formação — a vacuidade e o despropósito de uma geração de jovens de classe média que simplesmente se entregam a um ritual que os apresenta a um “eu maiúsculo” que não parecia ser possível na monotonia da vidinha besta e regrada de um grande centro urbano. “A gente achava que não ia morrer nunca. Ou então estava a fim de morrer logo”, é o que diz o protagonista. Pra mim, a adicção sempre esteve nesse fio da navalha de crer inconscientemente numa imortalidade ou de se precipitar rumo ao fim, e o livro é muito hábil em apresentar situações e sensações que dimensionam esses caminhos.
Como Boide bem coloca: “O passado é matéria maleável, e as falhas na estrutura podem ser preenchidas pelo cimento da invenção. Sem o rigor do arqueólogo, mas com a disposição do coletor de sucata, ele precisa revirar as ruínas de sua própria memória para reconstituir sua vida na idade da pedra”. O cenário da escavação é o bairro do Ipiranga e arredores — um reduto tradicional de classe média de São Paulo, nem tão glamoroso quanto a Zona Oeste dentro do Centro expandido da capital paulista, nem tão entregue ao deus-dará quanto suas periferias, e um tanto apartado da temida cracolândia —, um espaço ainda pouco explorado no universo ficcional e o cenário perfeito pra tratar do crack indo além da caricatura. Inclusive, é impossível não pensar que tudo o que é relatado neste livro poderia servir de argamassa criativa pra outro grande cronista do Ipiranga, o rapper Ogi, muito celebrado por mostrar uma São Paulo que não se limita aos estereótipos.
Preparem-se para o “tuim” dessa viagem…
Arthur Dantas Rocha
_outras informações
isbn: 978-65-5900-626-7
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x22 cm
páginas: 152 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2023
edição: 1ª