um bidê e nove .
mulheres que respeitam as entranhas,
o avesso. mulheres que escrevem o íntimo
e criam recomeços.
mulheres que sabem do prazer e do gozo
e sabem quando não é prazer e não é gozo.
mulheres-memórias. experiência no corpo.
poesia de corpo, labirinto.
mulheres.poetas:
aline tóia dheyne samara priscila débora valeska juliana ingrid.
mulheres que carregam molotovs no peito,
que sabem ser sexualidade, sabem sair de cena,
sabem mãe e maternidade.
mulheres que sabem: amar me deixa suja.
sabem da depressão e queimam projeções
que não são suas.
mulheres que nascem, falam, leem, escrevem
e sabem que tudo isso é uma vitória.
sabem da guerra implícita imposta às suas existências.
mulheres unidas na solidão de histórias sem paz
e às vezes sem pais. mulheres que
puxam da garganta sons banidos.
mulheres que identificam mitos, dama se faz
de espinhos; e revelam crônicas da vida crônica.
mulheres diante da culpa injusta. e afirmam:
que a mulher ama o amor
é um segredo restrito às salas com divã.
mulheres que reverenciam quem veio antes,
que sabem que o amor às vezes é preciso ter peso
é preciso da realidade do sentido
que tenha corpo pra ver, que tenha corpo
pra tocar, que tenha corpo que cheire,
que tenha corpo que faça barulho.
mulheres que sabem da beleza da idade
impressa na pele, que fazem questão de
lembrar do que sustenta toda carne.
mulheres-bagre.
mulheres que —
como definir estas mulheres?
esse corpo
que deixa
marcar mais em si
do que no outro
mulheres que escrevem
com as pontas do coração
(…)
e adormecem nas frases cegas da noite.
mulheres que me lembram wislawas, anas cristinas, conceições.
mulheres que me fazem lembrar.
mulheres: escrever para não esquecer.
são mais perigosas as que sentem prazer.
eu quero uma casa com bidê.
Anna Zêpa