logo eu
que era crisântemo
que já fui rosa espinhuda
orquídea exótica
tantas vezes cacto
outras, tulipa
folhagem camuflada
quase mato seco de geada em manhã fria
floresci girassol
na noite nua
R$50,00
_sobre este livro
Uma fresta é ruptura: a depender da circunstância, pode ser que seja necessária — mas nunca fácil.
Uma fresta também é brecha: através dela enxergar o que há do outro lado, ainda que não se possa transpassar muro.
E ainda: por meio de uma fresta, a água vence a telha, e o concreto e pinga sua liberdade até formar poça, encher balde — então nunca lidou com uma goteira no teto?
De todas as metáforas imagináveis com o título do livro que você tem agora às mãos, nos encanta pensar que todas as significações são possíveis. E as tantas mais que lhe couber criar.
Marília nos presenteia essas frestas como possibilidade de ver o facho de luz que invade um quarto escuro atrás de paredes cerradas: a expectativa da flor — e há um imenso jardim delas aqui — move um corpo que busca força em direção a um que-virá ao mesmo tempo em que contempla, crítico, vez-que cético, o presente: “só o nada testemunha o espaço entre o céu e o todo”, observa a poeta.
Entre os bordados, flores, águas, nuvem e brecha costurados neste livro, Marília alinhava arremates precisos sobre o existir/resistir mulher, imigrante, lgbtqia+. Nos fios, cores que nos levam ora a um estado onírico: “tem um mar em mim que é só vertigem”, ora a uma assertividade crua: “é esse silêncio resguardado/o meu direito sobre o mundo”, ora a imagens lúdicas: “a bota sem par da cartografia da Itália”. Afinal, “é preciso leveza para a luta”. E assim, a costura que parte da experiência íntima também nos veste, coletiva.
Janaína Moitinho e Michele Santos
_outras informações
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5 cm
páginas: 114 páginas
ano de edição: 2023
edição: 1ª