Esse livro é sobre o amor de duas mulheres. Não de uma para outra necessariamente, apesar de se amarem. É do amor delas pelo todo. Tão denso e profundo quanto oceano. Frágil e desbotado como tinta velha na parede. Efêmero e intenso como as pétalas da violeta. Um livro sobre existências que se atravessam, em tons que vão do sangue ao blues.
Começou pelas trocas de e-mails de duas amigas vivenciando o luto pelo fim de seus relacionamentos. Mas se expandiu. A escrita virou uma necessidade, uma ferramenta ou um ritual através do qual a existência se fez possível. Escrevendo puderam (r)existir. Puderam se olhar. Nesse gesto em que uma, vendo a outra, via a si mesma. Um reflexo. Uma reflexão. Então, um território foi criado. No qual circularam afetos múltiplos. No qual a história e a singularidade de cada uma emergiram através de personagens que podem, talvez, misturar-se a singularidades outras; podem, quem sabe, afetar leitoras e fazê-las também se enxergar nestas linhas.
Não se trata, no entanto, de um livro epistolar apenas. Há nele, certamente, um quê de crônica. Antonio Candido, em seu texto “A vida ao rés do chão”, diz que a crônica é um gênero menor, não faz parte da grande literatura. Por isso possui uma sensibilidade outra. Ainda bem.
Por fim, a leitora talvez tenha a sensação de que o livro começa pelo meio e de que não termina. Pois é. É que tudo não passa de uma conversa. E, como diria Clarice Lispector, “faz parte de conversa ser inacabada. O resto é invenção”.